Estou simplesmente passada. Curtia eu a minha intoxicação alimentar pós-páscoa quando vi na TV uma garota, loira dos olhos verdes, declarando-se negra na inscrição para o vestiba da UNB. Cuma é que é? Indagada sobre o inusitado da situação, a moçoila justificou-se: "Meu pai é negro. Pensei que o sistema de cotas fosse extensivo aos descendentes..."
Ah, bom...agora eu entendi...o pai dela é negro.
Para entender o processo: a Universidade de Brasília é uma das primeiras (ou a primeira) a adotar o sistema de cotas para negros e pardos. As inscrições começaram nesta semana. E o bafafá também.
O indivíduo vai lá fazer a inscrição e, caso deseje, declara-se negro ou pardo. Os funcionários tiram, então, uma foto do indivíduo, para posterior avaliação.
O ser humano é de uma graça impressionante. Depois de todo creme alisador, de toda chapinha, de toda maquiagem clareadora, as pessoas resolveram assumir seu lado negão. Alguém, por favor, recorde comigo: até outro dia, eram usados vários eufemismos para evitar a definição da cor das pessoas. Escurinho, moreninho, queimadinho, marrom-bombom. Nunca negro ou pardo. Outro dia, li um texto absurdo, em que o autor afirmava que o preconceito vinha porque preto é uma cor ligada a coisas negativas. Ora, por favor...
Não tem um filme em que o cara se passa por negro para entrar em uma escola? Pois é, a realidade imita a fantasia.
Sou a favor, sim, de cotas para pessoas de baixa renda, que não podem competir de igual para igual com aqueles que têm condições de pagar cursinhos e bons colégios. Pobreza não tem cor. Existem pobres negros, brancos, escurinhos, marrom-bombom e por aí vai.
E sobre o saneamento do ensino público, ninguém fala? E sobre melhorar a qualidade dos alunos de escolas públicas? Sistema de cotas é um paliativo, uma alavanca para que possa ser feita uma verdadeira reestruturação no ensino público. Vamos colocar esse remendo colorido na calça rasgada e achar que estamos bem na foto?
Vou ficar aqui, sentadinha, esperando para ver as novas cotas que serão criadas...tenho a sensação de que ainda vou me divertir muito.
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