sexta-feira, junho 17, 2005

A ponta do iceberg

Eu gosto de rotinas. Na verdade, eu preciso de rotinas. Apesar de ser uma bagunceira contumaz nas coisas concretas, minha alma é de uma organização matemática. Existe lógica nos meus mais caóticos desvarios, ainda que essa lógica não se sustente por muito tempo.

Eu gosto de ler. Não como uma fuga, não como uma ocupação, mas como um exercício de amor. Eu faço amor com os livros. Levo-os para a minha cama, passo um período totalmente fiel a eles. Não desgrudo deles e, em determinados momentos, fico tão absorta na leitura que deixo de prestar atenção às coisas que me rodeiam.

Autores favoritos: Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Por sinal, os dois estrangeiros.

E eu adoro a frase final deste texto do Pessoa. Já até usei em um post. Agora coloco o poema inteiro. Porque hoje é sexta-feira, porque a vida corre, porque quem eu amo está tão longe, porque quem eu amo está tão perto...

Há Doenças Piores que as Doenças

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.


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