Ela entrou no metrô. Cabelos bem presos em um coque, saia e blusa pretas, bem comportadas, óculos e uma bolsa enorme. Sentou ao lado de um rapaz que, de cabeça baixa, ouvia música com fones de ouvido. Assim que o metrô começou a se mover, ela tirou um livro da bolsa (Tete a tete, sobre Sartre e Beauvoire). Ia ser um longa viagem...
De repente, ela se sente observada pelo rapaz. Olha para ele e...
– Vandinha Corda Bamba!
– O quê, meu senhor?!!
– Eu estava tentando lembrar onde já tinha visto a tua cara! Vandinha Corda Bamba, lá da boate Love Sky.
– O senhor está enganado. Deve estar me confundindo com alguém.
– E eu lá vou esquecer essas coxas, Vandinha? Cada uma dá pro mês lá em casa.
– Meu senhor, eu já disse que é um engano. Nunca vi o senhor na minha vida, nunca coloquei os pés nessa e em nenhuma boate.
– Quié isso, Vandinha? Tá com vergonha? E que roupa de crente é essa?
– Senhor, essa é a minha roupa de trabalho.
– Trabalho? Tá fazendo ponto com essa roupa?
– Fazendo o quê, senhor? Não, eu sou governanta.
– Governanta, sei. Sei bem o que tu governa. Vai tê show lá hoje?
– Não sei do que o senhor está falando.
– Do show de strip, ué. Um amigo meu tá louco pra ver o teu número. Aquele lance de tirar a roupa se equilibrando numa cordinha, maior doidera.
– O SENHOR, POR FAVOR, ME RESPEITE!
– Quié isso, Vandinha?
Mas ela já havia se retirado para o outro lado do vagão. O rapaz pensou que talvez tivesse se enganado mesmo. Vandinha Corda Bamba com aquelas roupas? E às 7 da manhã? Não rolava.
Discretamente, ela retira um caderninho de dentro da bolsa. Pega uma caneta, vira as folhas e risca "Love Sky" de uma lista de quinze nomes. E suspira.
– É... tá na hora de mudar.
Um comentário:
kkkkkkkkkkkkkkk!!!!
Tempo de mudanças amilga, tempo de mudanças...
Fala pra ela passar lá na Boite Azul, ainda tem vaga pra mulher de coxa grossa... :P
Beijos de saudade.
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