Amiga, eu vi o caminhão vindo. Vi, e juro, tentei ter forças para puxar você pro acostamento. Mas você estava tão feliz no meio da rua, que nem viu todas as luzes, nem escutou as buzinas. Parecia uma criança brincando no asfalto. Ainda tentei empurrar você, mas saiu um empurrãozinho leve, fraco diante da força desse seu querer, tão assustador para mim. E a única coisa que eu pude fazer foi abraçar você para tentar minimizar o impacto. Perdoa essa sua heroína atrasada. Eu devia ter dito. Mesmo sabendo que você iria me odiar. Mesmo sabendo que você não ia me escutar. Mas eu devia ter dito. Devia ter chamado você de boba, de idiota, de cega. Devia ter rasgado retratos e amaldiçoado o nome dele. Isso enquanto era tempo. Devia ter contratado detetives, aumentado histórias, fomentado suspeitas. Mentido mentiras brancas, mentiras caridosas.
Mas... não é isso que chamam de vida, minha amiga? E não é isso que parece tão maior do que nós que nem a vontade de enfiar a cabeça no chão e esperar a banda passar é respeitada? Eu não sinto a sua dor, porque ela é só sua. Tenho as minhas, que sabem doer como profissionais. E a elas adiciono mais esta: ver você adolescendo no amor.
Um comentário:
É isso aí, né? De fora, a gente vê as coisas com uma clareza que dói.
De dentro a gente fecha a janela pois não quer ver.
Será que a gente aprende?
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